domingo, 29 de junho de 2014

Etapa 16: Arroyo San Bol - Itero de la Vega (25/06)

O nascer do sol hoje foi lindo. Após tanta chuva, valeu a pena acordar cedinho para apreciá-lo. 

Passei por uma vila chamada Castrojeriz, e me sentei para um café com Francesco e Vincent (um alemão que se juntou a nós desde ontem). Quando estávamos saindo da vila, encontramos Suzi na porta de uma casa. Ela  não deu muitas explicações, mas nos disse  que tirássemos o sapato e entrássemos ali. Ela seguiu seu caminho e nós entramos. O lugar se chamava "Hospital das almas" ou "casa do silêncio", como preferimos chamar. Ali  tive um dos melhores momentos do meu caminho até agora. Trata-se de uma casa organizada por um casal, com fotos do caminho, mensagens, chá, bolachinhas, música, sofá, jardim, muitos livros e mais, muito mais. Você entra, se sente em casa, faz o que quer, olha para o que quer, se entrega  ao seu momento. Eu acho que esse casal mora lá, mas a gente não tem certeza. Saí da casa do silêncio e fiquei esperando algum peregrino passar para eu poder presenteá-lo com uma visitinha ali, da mesma forma como fui presenteada. Não tirei fotos de dentro do lugar porque o considerei tão particular que não quero somente passar a minha impressão. Desejo que, no futuro, todas as pessoas possam visitar esse lugar e que ele seja visto por cada um, para que cada um sinta seus próprios sentimentos, sem a interferência da óptica de outro.

Após essa experiência, tive que subir um morro com inclinação de 12% ( assim mostrava a placa). Foi mais fácil depois do presente que havia acabado de ganhar.

Ultreia :) 




O Nascer do Sol, saindo de Arroyo de San Bol

A "Casa do Silêncio"


Vista de cima do morro, após uma subida de uns 45 minutos



sábado, 28 de junho de 2014

Etapa 15: Burgos - Arroyo San Bol

Após um longo café da manhã na companhia de Cesare, nos despedimos dele, e só depois das 10h começamos nossa caminhada. Um pouco incomum, pois como estamos no verão e também porque devemos deixar os albergues até as 8h da manhã, sempre começamos a caminhar antes disso.

O dia amanheceu com cara de chuva, mas ela só chegou após as 16h. Primeiro dia que caminho debaixo dela. Claro que trouxe capa para mochila e também para mim. Com certeza  poderia esperar que, em aproximadamente 30 dias de caminhada,em algum deles eu teria a chuva como companhia.


Isso não estragou meu dia, em hipótese alguma. Só o tornou mais especial, pois nos vimos obrigados a dormir em um hostel rural, em Arroyo San Bol, pequeno e aconchegante, no interior de uma casa de pedra, já que a chuva ficou mais forte e havíamos sido informados de que poderia ocorrer tempestade. Éramos aproximadamente 10 peregrinos hospedados no local. Adoro esses momentos em hospedagens com poucos peregrinos, quando é possível uma troca de experiências muito mais próxima. A chuva foi longa e a noite muito agradável :) Ultreia


Café da manhã com Cesare e estrada nublada

Início da chuva e nossa hospedagem rural


quarta-feira, 25 de junho de 2014

Etapa 14: Atapuerca - Burgos (23/06)

Saí de Atapuerca quando ainda estava muito escuro. Havia também uma serração muito forte. Em questão de uns 30 minutos de caminhada cheguei ao topo de um morro e ali fiquei, esperando o dia amanhecer. Fiz uma sequência de fotos desse belo nascer do sol que pude apreciar!!!

Um pouco antes de chegar a Burgos, moradores locais indicaram que não pegássemos o caminho original, pois passa por muitas indústrias. Seguimos o conselho e fomos pelo trajeto alternativo, que não tem muita indicação para ajudar a nós, peregrinos. Felizmente conhecemos o espanhol Mariano, que carinhosamente foi nosso "guia", explicando um pouco sobre a cidade de Burgos e nos trazendo até o albergue municipal, que fica muito próximo à catedral.

Como amanhã Cesare, um dos italianos, retornará  à Itália, Guta e Nani (que estavam uns 30 quilômetros a nossa frente) decidiram ficar um dia a mais em Burgos para poderem se despedir de Cesare. Acabamos de voltar de uma jantinha em um restaurante italiano e logo mais começa a hora de dizer até logo ao nosso querido amigo, que me acompanhou por 12 dias ( todos nós nos encontramos em Orisson, após nosso primeiro dia de caminhada e não nos separamos mais). Me ensinou muito, me ajudou mais ainda. Só tenho a agradecer a ele por esses bons dias. E que ele siga seu caminho e nós, o nosso, com ele no coração. 
Ultreia :) 


Nascer do Sol

Mariano, que nos guiou até o hostel da cidade de Burgos

Eu, Francesco, Cesare, Suzi, Nani e Gunda nos despedindo de Cesare

Etapa 13 : Tosantas - Atapuerca (22/06)

Finalmente, nesse trecho  voltamos a ter um pouco mais de árvores e sombra . Outra ótima notícia é que já voltei a usar minhas botas. Embora ainda presentes, as bolhas já estão muito melhores e logo, logo estarão secas. Aprendi com Vitor, o curitibano, que tinha mais de 6 bolhas em cada pé que, para evitar a umidade da bota (ou tênis), pode se colocar absorvente feminino no solado. Hoje cedo fiz isso! É engraçado, mas funciona superbem! Quem  ensinou  a ele foi uma hospitaleira em alguma vila logo no começo do caminho. Passo a dica adiante !!!!


Como presente do dia, encontrei Fabienne  em San Juan de Ortega. Como contei antes, há dois dias nos despedimos. Foi um ótimo momento junto com ela novamente. Engraçado que quando já estava preparando minha mochila para prosseguir, ela me perguntou como eu estava me sentindo e disse a ela que muito mais leve, depois de nossas conversas. Agradeci, me despedi pela segunda vez, e segui meu caminho. Então, tive a sensação  de que em minha mochila faltava alguma coisa, pois ela estava muito mais leve... E realmente deve estar mesmo ;) Ultreia 



Nascer do Sol durante a caminhada
Ensinando para Susi a técnica do absorvente

Pausa para descanso e almoço


Mudança da paisagem agora com mais árvores



segunda-feira, 23 de junho de 2014

Etapa 11 Azofra - Santo Domingo de lá Calzada (20/06)

Minha caminhada até Santo Domingo, além  do pessoal que tenho mencionado (Suzi, Cesare e Franscesco), contou também com a companhia de Fabienne. Para que vocês entendam, não é que andamos lado a lado pelo caminho. Mas somos apoio um do outro. O que também não significa que durante o percurso não conversamos e não podemos estar juntos. Não existem regras, você caminha da forma que te dá vontade !!! Eu, por exemplo, muitas vezes estou sozinha, ouvindo música.

Hoje me permiti  ter uma companhia, passo a passo, por todo o trajeto. Fabienne conversou muito comigo. Sua história de vida  esbarra em vários momentos  na  minha. Encontrei uma afinidade muito grande com essa agradável pessoa e assim consegui começar a falar sobre o principal motivo que me trouxe aqui. É fantástico como o caminho vai nos preparando para as mudanças e boas "surpresas" que estão por vir !

Como cheguei bem cedo a Santo Domingo, pois fiz uma caminhada curta de aproximadamente 15 km, tive tempo para conhecer com calma a cidade, visitar sua torre e catedral.

Um pouco antes de dormir, passamos um tempinho em um pub para nos despedir de Fabienne, que decidiu seguir  a passos mais lentos, a partir de amanhã. Ela não vai até Santiago de Compostela. Sua passagem por aqui dura apenas uma semana, pois ela pensa em chegar até Burgos e logo retornar para seu país, Suíça.


Como os albergues comumente fecham as portas  às 22h, não tardamos a retornar. Mesmo assim tivemos horas agradáveis. E dessa forma estou já, dizendo até logo, com coração apertado, a uma pessoa que me conquistou muito rapidamente! Ultreia :) 

Nascer do Sol e as paisagens pelo caminho

Pausa para o descanso e uma partida de Golf para descontrair

Santo Domingo de la Calzada e sua Catedral

Querida Fabienne e a despedida no pub






Etapa 12: Santo Domingo de la Calzada - Tosantos (21/06)

Minhas caminhadas têm sido difíceis com as bolhas,pois as tenho na sola dos pés, então não tem como pisar e não as sentir. É interessante como a sensibilidade aumenta e diminui durante o dia. Hoje, a certa altura, precisei de ajuda e "peguei um ônibus" supermoderno. Vejam vocês mesmos pelas fotos. Cesare e Suzi me deram essa força e disseram que não vão me chamar de "fake peregrine"( no próximo texto prometo explicar o que é isso).
Em Belorado, fizemos uma grande parada para descansar. Almoçamos bem e resolvemos caminhar um pouco mais. Esse “ pouco mais” não durou além de 4 km. Estávamos cansados e eu não conseguia lutar contra meus pés. Paramos em um viajeira muito pequeno, chamado Tosantas, e fomos direto ao albergue, que era paroquial. Ainda em Belorado havia comentado com Cesare sobre meu desejo de me hospedar em ao menos um desses albergues durante o caminho. E meu desejo não demorou muito para se realizar. Melhor ainda foi quando soube que era franciscano.
Fomos recebidos pelos hospitaleiros da casa, que era bem antiga e simples. Após as explicações de como funciona a rotina da hospedagem, fomos convidados a subir para a capela existente em meio às rochas, construída no século 17. Uma ótima visita, guiada por uma moradora da vila. Logo após tivemos a janta comunitária, que é preparada por todos nós, peregrinos. Jantamos e quem quisesse poderia subir ao último andar da casa para o momento de oração. Foi lindo, pois rezamos em todas as línguas ali presentes, que eram: espanhol, português, inglês, coreano, alemão, italiano e francês.
Às 22:30 foi dado o toque de recolher, e quando encontrei Suzi para dar boa noite ela disse que estava muito feliz por me ver tão feliz, como uma flor que havia desabrochado. Realmente, estava irradiante... A surpresa em poder passar a noite em uma casa paroquial franciscana veio ao encontro do que eu precisava para meu dia ser perfeito! Ultreia :)


Obs. As casas paroquiais recebem donativos, então não existe um preço fixo a pagar.. Você colabora com   quanto puder e quiser doar. Já os albergues, sejam municipais ou privados, têm sua taxa fixa, geralmente variando entre 5 e 15 euros.



Nascer do Sol de hoje pelo caminho

A hospedagem na casa Paroquial

Meu "ônibus" especial , um descanso e uma companhia







sábado, 21 de junho de 2014

Etapa 10: Ventosa - Azofra (19/06)

Dormimos em Ventosa em um albergue charmosíssimo.Desde Roncesvalles (lá no começo da peregrinação) que não ficava em lugar que tivesse um aconchego como esse. Depois de uma noite bem dormida, parti, não muito cedo, para caminhar. Me arrependi, pois nesses últimos dias o caminho tem sido no entorno de muita rodovia ou estradas, barulho e muito pedregulho. Tudo isso faz com que o calor reflita muito e assim, andar debaixo do sol do meio-dia não tem sido boa escolha. Mas tudo bem... Espero que esse tipo de estrada logo acabe e que voltem as trilhas com mais verde. No momento estou numa região de vinhos (Rioja) e também encontro muitos vinhedos e plantações de trigo.

As minhas bolhas continuam e agora totalizam três, e todas na sola dos pés, perto dos dedos. Comecei a andar com meias e sandálias, para ver se o pé respira um pouco mais. O bom é que tenho conseguido não chutar as pedras. Isso já ajuda, né ?

Durante parte do meu caminho tive a agradável companhia de Fabian, uma suíça que conheci no albergue de Ventosa e está há dois dias no caminho, tendo começado em Logroño, devendo parar em Burgos.

Chegamos cedo a Azofra e logo fomos para o albergue municipal. Gastei a tarde toda dormindo, porque durante o último percurso senti muito mal- estar, com náuseas. Isso também faz parte do caminho pois além do físico, o emocional fica muito sensível e estou aberta para que as transformações possam acontecer. Então não estou preocupada, mas tenho tentado estar cada vez mais em contato com Deus, para que minhas forças aumentem dia após dia!

Ao fim do dia fui acordada por Suzi, a alemã, com a alegre notícia de que Francesco, um dos italianos, caminhou aproximadamente 37 quilômetros para conseguir nos alcançar e assim continuarmos a caminhada todos juntos (eu, Suzi, a alemã, Cesare e Francesco, os italianos).

Claro que tivemos uma jantinha com o "menu do peregrino", para comemorar! 

Descanso no meio do caminho

Nascer do Sol saindo de Ventosa

O reencontro com Francesco e nosso jantar

Listas e diário de bordo

Fazer um diário de bordo nunca foi meu forte. Sempre acredito que me lembrarei de tudo que aconteceu durante a viagem, após meu retorno, e chego com a convicção de que criarei um lindo fotolivro, recheado de belas histórias.

O resultado dessa crença é que até hoje tenho fotos de viagens antigas esperando para serem organizadas. Assim, o blog está me ajudando com a disciplina de passar para o papel parte do que estou vivendo. Aliás todo o caminho de Santiago tem me ajudado. Uma vez que sou o tipo de pessoa que se encontra na própria bagunça e que não faz listas para quase nada, tenho me admirado com tantas listas que organizei. Fazer uma viagem sem planejar as coisas também exige certa logística, afinal percorrerei um longo trajeto a pé com uma mochila limitada de peso. Preciso estar preparada para as diversas situações que encontrarei.

Comecei com as listas para decidir o que levaria, separando por: itens pessoais, gerais, medicamentos e documentos. Lista de hostels sugeridos por peregrinos (sem reservas, afinal sugestão é sugestão e não preciso acatar), lista de hostels não indicados e tem até lista dos alongamentos que farei antes, durante e após as caminhadas. Não contente o bastante, acabo de decidir que farei lista dos gastos diários e listas sobre o que escrever. E para vocês entenderem como está funcionando o blog, aqui vai: escrevo os textos e envio para Natália (Holiday Intercâmbios) com a sugestão de formatação na página. Ela repassa para minha mãe fazer a correção de português e ao retornar a ela, vai para o blog! Aqui não tenho internet o tempo todo, pois ainda não coloquei cartão da Espanha. Quando puder o farei, se não tiver que encarar as gigantescas filas que venho encontrando nas telefônicas espanholas. Uso wi fi, quando consigo. Dessa forma os posts podem ter alguns dias de atraso, porém espero que não muito. Escrevo agora de Orisson (aquela minha primeira parada aos 7,5km) e não temos wifi aki, amanhã, quem sabe, quando chegar a um lugar com internet enviarei as fotos e este texto!!!
Estavam curiosos???
OBS. Texto escrito em 10/06. Hoje, 19/06 minha lista de gastos já não existe mais e já consegui um cartão de telefônica espanhola. O restante segue da mesma forma como escrito anteriormente rsrsrsrsrs


Listas




Etapa 9: Logroño - Ventosa

Já lhes contei que a todo momento ouvimos de alguém "Buen camino"? Assim também fazemos nós, peregrinos. Cruzamos com alguém, de mochila e falamos o mesmo!

Hoje pela manhã foi quando ouvi mais "Buen camino" em tão curto espaço de tempo. Cruzando um parque enorme, na saída da cidade, encontrei muitas pessoas fazendo esporte (caminhada, corrida,bike, passeio com cachorros, e por aí vai). Logo na saída do parque avistei de longe uma "barraca" com um senhor barbudo, sentado. Lógico que pensei 'isso é coisa do caminho'. Já fui apontando meus passos naquela direção, e ali sentei um pouco para conversar. Era o Marcelino, peregrino do caminho!

Conversamos um bocado e ele me injetou uma boa dose de ânimo. Passa que hoje cedo o italiano Francesco nos deixou, pois não se sentia bem e continua com muitas bolhas nos pés. Tudo junto e mais muito sol e dias acumulados de esforço físico colaboram para os passos ficarem pesados. Ao voltar para o caminho, além de ouvir mais saudações, conheci duas pessoas interessantes. Um senhor espanhol, que já viveu no Brasil  e, logo adiante,um senhor francês que também já viveu no Brasil, e estava louco para "gastar" seu português. 

Seguimos conversando por um bom tempo e, pela primeira vez, alguém me perguntou por que estou fazendo o caminho. Esperava essa pergunta primeiramente de algum brasileiro, nunca de um francês :) claro que não me importo com as curiosidades das pessoas, mas achei superinteressante o fato de isso ter acontecido através de uma pessoa que vem de uma cultura muito mais reservada e discreta que a brasileira.


Continuando a caminhada, passei por Navarrete, onde encontrei a mais bela igreja que vi até agora no caminho. E dentro havia o divino Espírito Santo e tb São Francisco de Assis. Ao sair de lá, bem de longe, na praça, vi um padre sentadinho, lendo. Corri em sua direção para pedir bênção. Ele orou comigo e abençoou minha viagem. Mais uma vez, bateria carregada e lá fui eu, cantando e dançando pelo caminho, até chegar a Ventosa, onde passei a noite em um agradável hostel. Para comer, preparei uma salada bem especial para o Cesare, Suzi e eu! Nham nham nham, bon apetit! 

Igreja em Navarrete

Um caminho com muito sol

sexta-feira, 20 de junho de 2014

8ª etapa: Los arcos - Logroño (17/06):

O  dia começou às 4:30 para mim. Resolvi que iria caminhar com o grupo por 28km, até Logroño. Estava já com uma bolha formada e outra por vir, contida por compeed ( uma espécie de adesivo que se usa na Europa para evitar a bolha, quando você nota que ela pode surgir). Dores musculares não tinha, mas  a sola dos pés machucada  dificultava meu caminhar. Amanheceu e nós já estávamos na estrada, apreciando o nascer do sol. 

Após os 10 primeiros quilômetros, meus pés já começaram a sentir que o dia seria difícil. É engraçado como o caminho nos surpreende. Nesse exato momento dois brasileiros cruzaram por mim, pedalando. Pararam e conversamos. Disse a eles da minha vontade de também fazer o caminho de bike. Trocamos nossos nomes de grupo de pedal e por coincidência estava usando o casaco que minhas queridas amigas do PEDAL DAS BELAS me deram para que eu viesse a Santiago e estivesse sempre com elas!!! Pois esse momento foi nosso , "belas" !!! Recebi dos rapazes de SC boas energias e assim prossegui meu caminho, e eles o deles, que é o mesmo, porém mais rápido.

A certo momento precisei parar, mesmo não tendo sombra alguma, pois senti que mais uma bolha havia se formado. Lá fui eu para o procedimento:  passar uma linha através da bolha com uma agulha, e deixá-la lá para ajudar a secar.

Completando 20km, encontrei os dois italianos e a alemã e tivemos um bom descanso. Acho que não falei aqui o nome de todos. São eles Ceasare, Francesco e  Suzi. Após aquele ocorrido há uns dois dias, quando eu achava q não iria conseguir chegar à próxima vila , percebi o quão importante tem sido eles estarem por perto. Além de muito divertido, porque quando estamos cansados, rimos muito de todas as situações e fazemos brincadeiras o tempo todo.

Prosseguimos em direção a Logroño. Francesco e eu estamos bem debilitados por conta de nossas bolhas e tomamos muito tempo para caminhar. Nos últimos 7 km eu lutei o tempo todo para conseguir chegar a algum lugar com sombra onde pudesse parar. Ceasare e Suzi disseram que me viram sofrer para caminhar e que gritavam para mim, mas eu não ouvia. Finalmente, muito próximo à entrada de Logroño encontrei um banco embaixo de árvores. Ali fiquei esperando os demais chegarem. Quando avistei Ceasare e Suzi ,comecei a chorar (acho que por saber que teria apoio). Logo em seguida já estávamos rindo e à espera de Francesco,  que estava muito atrás de nós. Assim que ele chegou, entramos em Logroño e no primeiro hostel que encontramos, ficamos. Para recompensar a caminhada árdua de hoje ( 28km) Ceasare cozinhou um divino risoto e Guta e Nani se juntaram a nós!!!

Amanhã espero que os pés dos peregrinos estejam em  melhores condições!!! Ultreia :)

Nascer do dia e os brasileiros bikers

Nosso jantar especial

O local onde parei para esperar meus amigos e a chegada deles

Pausa para descanso e também para cuidar dos pés

Pelo caminho



quinta-feira, 19 de junho de 2014

7ª Estella - Los Arcos

O dia começou com uma caminhada em direção à fonte de Irache, onde se pode apreciar o vinho produzido no local. É uma passagem "obrigatória" dos peregrinos. E assim, às 8 da manhã lá estava eu provando um pouco de vinho. 

Apesar da bolha nos pés a caminhada não estava muito pesada, como no final do dia anterior. A certa altura do caminho, me encontro com Vitor, o curitibano que conheci em Puente la Reina. Engatamos uma conversa e parecíamos nos conhecer há muito tempo. Ele me contou que sua esposa e seu filho também estiveram , recentemente, no caminho de Santiago. De repente, ele parou e me mostrou o seguinte texto do filme de São Francisco de Assis ,Irmão Sol e irmã Lua: 'Se quiser ver seus sonhos se realizarem não se apresse, vá devagar. Faça poucas coisas, mas faça- as bem. O que vem do coração cresce puro. Dia após dia, pedra sobre pedra, construa seu segredo devagar.  Dia após dia você também crescerá.  E conhecerá a glória celeste.' Vitor não imagina  como  suas palavras, naquele momento, me fizeram entrar por completo no caminho. Após chegarmos a  Los Arcos, nos despedimos. 

Eu sabia que pernoitaria ali e ele tinha dúvidas se ainda seguiria adiante. Espero muito poder encontrá-lo novamente! Veremos o que o caminho me reserva. 

 Paisagens pelo caminho

Saída de Estella e a fonte de vinho de Irache

 Uma pausa para o descanso e a companhia de Vitor, o curitibano

terça-feira, 17 de junho de 2014

6ª etapa : Puente la Reina - Estella (15/06)

Sinto que estava com os passos um pouco mais apressados durante os primeiros dias de caminhada. Talvez fosse a ansiedade do início ou ainda o fato de demorar um pouco para me desligar do cotidiano, e assim acabei indo mais rápido do que precisava. Hoje acordei inspirada para tirar mais fotos, para olhar mais para tudo. Apesar de sempre aproveitar o caminho com tudo que consigo perceber que ele me oferece, hoje fui olhando  todas os pormenores com mais tranquilidade. Tirei fotos belíssimas! Parei em um riozinho para descansar os pés, que estavam pedindo por isso, e continuei a passos lentos. De repente um senhor italiano me parou e perguntou: essa concha é sua? Ele havia andado alguns quilômetros com a concha que havia caído da minha mochila e estava à procura do dono. Até então eu não havia sentido falta dela. Maravilha receber de volta a concha que ganhei no primeiro dia, de uma brasileira, lá em SJPP ( aliás, não a vi mais pelo caminho).

A certa altura,me encontrei com os italianos e com a alemã, que estavam sentados em um vilarejo, a minha espera. Na hora pensei, pra que me esperar? O caminho é de cada um e apesar de estarmos sempre em sintonia e assim acabarmos nos encontrando quase sempre nos mesmos locais para passar a noite, não precisavam ter me esperado. De verdade, foi isso que pensei... Pois bem, a partir desse encontro, continuamos a caminhar e me veio uma sensação muito ruim, de que não conseguiria terminar a caminhada até um próximo vilarejo, onde eu pudesse passar a noite. Gritei ao Cesare para que me esperasse e caminhasse a meu lado. Ele, sem hesitar, ficou ao meu lado a cada passo. Chegamos a uma vila, onde não havia albergue, porém tinha uma linda igreja e naquele momento (me lembro certinho da hora, pois o sino tocou às 11h) nós olhamos e falamos : "vamos entrar !!!!" Havia muita gente... Nós lá com as mochilas e suados no meio de todos. Pensei que iria acontecer um casamento e, de repente, entram várias crianças e o padre, pela lateral até o altar. Era a primeira comunhão delas e as primeiras palavras ditas eram algo como a alegria de se conhecer Deus. Foi lindo poder estar ali naquele momento. Recebi uma força nova para poder continuar a caminhada, que não estava fácil para mim.


Finalmente, após uma caminhada que parecia interminável, cheguei a Estella. Uma cidade bem bonitinha com um albergue aconchegante, onde descansei o corpo e a mente. Minha primeira bolha surgiu e continuo caminhando como pinguim. Assim estão vários peregrinos ... Ainda bem que tenho a ajuda das fotos de lugares lindos para olhar e desses belos momentos  para contar, esperando a dor passar !!! Ultreia :)



Os italianos e a alemã que cuidaram de mim hoje , um pouco de descanso e os cuidados com a bolha 

Um pouco de Estella













segunda-feira, 16 de junho de 2014

5ª etapa - Pamplona - Puente la Reina (14/06)

O dia começou cedo para mim, saindo de Pamplona às 6h. Como aqui está começando o verão, é bom evitar andar muito durante os picos de sol forte.

Ainda em Pamplona, passando pela universidade de Navarra, avista-se  de longe a Serra do Perdão. Alguns quilômetros adiante, estava eu subindo essa serra, que encanta pelo visual. Nunca antes havia estado em um lugar de captação de energia eólica. De longe já é possível ouvir o barulho das hélices girando. 

Ao chegar lá em cima, tive uma grata surpresa ao encontrar a obra de Vicente Galbete, que retrata uma caravana de peregrinos de várias épocas, mostrando a evolução da história do caminho. Como não sabia que ia encontrar isso naquele momento? Porque eu não estou lendo nada sobre os lugares, antes de chegar  a eles !!!! Se alguém me contar o que encontrarei pela frente, ótimo! Caso contrário, tenho seguido meus instintos e deixado o caminho me mostrar.

Após a descida do morro, encontrei uma fonte onde pude relaxar um pouco os pés na água. Hoje alguns começaram a sentir o cansaço de tanta caminhada e preciso cuidar bem de quem tem me levado cada dia mais perto de Santiago!!

Cheguei   logo após as 13 ou 14h a Puente la Reina, lugar onde decidi passar a noite. Enquanto conhecia a cidade, parei para escrever o texto da etapa anterior, sentada, admirando a ponte da cidade. De repente  sou surpreendida por três brasileiros. Dois haviam descido para perto de onde eu estava. O outro estava cruzando a ponte. E eles conversavam à distância. Claro que entrei na conversa e aí tava feita uma roda de boa conversa com 4 brasileiros, um casal de Sampa, um curitibano e eu. Que agradável surpresa... O casal já tinha ouvido falar de mim pelo caminho e finalmente havíamos nos encontrado!!! Pessoas agradabilíssimas e que, por coincidência,também têm blog e já percorreram o mundo em uma viagem que durou dois anos. 

Quem quiser  acompanhá-los,  procure pelo site chamado WALK AND TALK BRASIL. Lá estarão a Luah e o Dani.

Vitor, o curitibano, terá seu momento certo para aparecer em toda essa história!

A noite chegou eu já havia combinado de jantar com um grupo. Os italianos fizeram uma "pasta" especial para nós!!! Delicioso comer comidinha mais caseira. Dorme-se ainda mais fácil, depois de uma janta especial!

Ultreia 

Vistas do Morro do Perdão

A surpresa de encontrar a obra de Vicente Galbete

Um pouco de Punte La Reina

A ponte da cidade e o até logo dos brasileiros 
Luah , Dani e Vitor 



domingo, 15 de junho de 2014

Uma pausa: detalhes que podem interessar

Até Pamplona não havia somado quantos quilômetros havia percorrido. Não é essa minha intenção e não farei isso com frequência. Mas como tenho data para voltar, preciso me situar um pouco no tempo que ainda me resta. Então vamos lá aos detalhes: desde o dia em que comecei a peregrinação (10/06) até ontem ( 13/06) já andei 66km a pé. Estou usando um coturno da Salamon. Não tenho bolhas ou algum outro tipo de machucado. No entanto, algumas dores musculares surgiram, sim. Brincamos aqui que você reconhece um peregrino porque ele anda como pinguim. Sim, estou também andando como pinguim. Mas isso até o corpo aquecer, depois tudo volta ao normal.

Meus pés durante o dia doem um pouco. Sinto uma dor mais acentuada nos dedos, mas tenho procurado massageá- los, deixo-os  ao sol nos momentos de descanso da caminhada, assim evito que fiquem úmidos. Não sei se estou pisando errado ou amarrando pouco o coturno, fazendo com que meu pé deslize na descida. Amanhã tentarei caminhar um pouco com sandália e meia. Só tenho medo das pedras, porque as chuto de montão.

Minha mochila pesa mais, muito mais que o peso que havia dito em um dos post (6,7kg). Depois de a ver leve, me empolguei, coloquei coisas a mais e acabei doando pelo caminho !!!! Não me lembrava que teria também o peso da água e da comida de que necessito para caminhar. Tudo pesa e preciso estar mais atenta com isso para não machucar a coluna. Ainda assim, não sinto dor nos ombros ou lombar.

Se tem uma coisa que tenho procurado fazer sempre é alongamento!!!! Tenho anotadinho como devo alongar pernas, braços, etc. Saí daí com essa boa orientação. Muitos peregrinos não alongam. Para mim, tem ajudado um bocado.

Tenho conhecido muitas pessoas e várias vão adiante, outras ficaram para trás e algumas permanecem na mesma rota que tenho escolhido ao acaso durante o caminho!

E vamos que vamos, porque ainda tenho uns bons quilômetros para percorrer ! Ultreia :)





sábado, 14 de junho de 2014

4ª etapa: Larrasoaña - Pamplona

Aproximadamente 15 quilômetros separavam o vilarejo onde eu estava de Pamplona. O caminho por entre trilhas fechadas, com árvores e, por momentos, com um pequeno rio ao lado, tornou a rota extremamente agradável.  Encontrei a igreja de San Esteban logo após uma acentuada subida. Vale a pena parar nas igrejas  encontradas  pelo caminho. É uma ótima oportunidade para conversar com moradores locais, que geralmente trabalham como voluntários.

A chegada ao portal do peregrino em Pamplona, após um trecho perto da rodovia e por entre ruas , é gratificante. Como havia dito em outro "post", essa é uma cidade maior. Sendo assim, acaba  fugindo um pouco do que encontrei desde o início do caminho. Mas não deixa de ser uma cidade com seus encantos e uma bela catedral para se visitar.

Para os que gostam de um pouco mais de agito, é uma boa pedida para colocar no caminho. Ultreia!


Obs. Trecho percorrido dia 13/06 


O belo caminho de hoje

San Sebastian

Um pouco de Pamplona